domingo, 8 de fevereiro de 2009

A IMPRENSA DA BAIXADA ENTRA EM AGONIA TERMINAL

A experiente e guerreira Claudia Maria, uma jornalista que dignifica a profissão, acaba de dar um alerta: O Correio da Lavoura vai fechar. Não se trata de mais um jornalzinho de bairro, um aventura romântica de um grupo de jovens de classe média, que resolveu, com a ajuda dos pais, montar um jornal para ver, em letras de forma, as suas idéia, ou um mero caçaníquel sem CNPJ. E, sim, de um jornal com 80 anos de história, de lutas e glórias, criado para ser o portavoz dos proprietários de terras e donos de chácaras e fazendas de Nova Iguaçu, um dos maiores municípios do antigo Estado do Rio.

Nesses 80 anos, o Correio da Lavoura testemunhou e registrou o esquartejamento político da velha Iguassu. Esse processo foi iniciado na Ditadura Vargas, no final dos anos 30 do Século XX, como uma tentativa de redesenhar a geografia política da então chamada Velha Província, forma sofisticada de manter o Poder nas mãos do Varguismo. Com o surgimento de novos municípios, os seguidores de Vargas – o Comandante Ernani do Amaral Peixoto, genro do Presidente, era um dos destaques – abria-se o leque de oportunidades de eleger prefeitos e vereadores, que ajudariam a eleger deputados e governadores aliados do velho caudilho

E assim, Iguaçu perdeu Vila Meriti (Duque de Caxias), São João de Meriti e Nilópolis num período de apenas dois anos (1941-1943), distritos que se tornaram município. A partir dos anos 70, o processo ganhou novo impulso e daí surgiram, alguns anos depois, Belford Roxo, Mesquita e Queimados. Na medida que a cidade de Iguassu, transferida para outro local com o nome de Nova Iguaçu, perdia força política, suas classes produtoras também se transformavam, saindo os donos de terras e entrando em ação os comerciantes e industriais. E o Correio da Lavoura foi perdendo espaço como portavoz das chamadas classes produtoras, pois as novas lideranças buscavam os holofotes e os microfones dos veículos do Rio de Janeiro, que até então conheciam a Baixada apenas pelo noticiário policial.

Era comum as manchetes do tipo “Matou a mãe sem motivo justo” e indicação da cidade como local do criem, ao invés de bairros como ocorria na cidade do Rio de Janeiro - Copacabana, Ramos, Bangu, Ilha do Governador. Para esses veículos, a Baixada era uma só cidade, sem divisão por municípios, distritos ou bairros. Daí para batizar Duque de Caxias como a “cidade onde a galinha cisca prá frente” foi um pulo. A chegada de grandes indústrias,agências bancárias, revenda de automóveis e redes de eletrodomésticos não mudou o panorama da Imprensa da Baixada, pois os grandes anunciantes preferem a mídia de grande alcance, como TVs e rádios, relegando a imprensa local a um terceiro ou quarto planos.

Para coroar, no sentido negativo, esse processo de esmagamento da imprensa regional, vieram os políticos carreiristas, que veem nos cargos eletivos a chance de subir na vida, no sentido literal da expressão. Com eles, os marqueteiros, que, aos comícios de vivavoz, preferem inundar as cidades com outdoors coloridos, jornais de campanha com propaganda enganosa, que são impressos em milhares de exemplares, garantindo aos marqueteiros um retorno em termos de comissão que nenhum veículo sério daria. Eleitos, esses carreiristas utilizam os recursos públicos em projetos pessoais, como centros sociais para distribuição de medicamentos e próteses, substituindo os postos de saúde, sucateados por administradores irresponsáveis.

E, sem apoio do comércio local, os jornais acabam se amarrando às prefeituras, cujos titulares, durante a campanha, prometem verbas que nunca sairão do papel. No caso do jornal iguaçuano, ele se viu enredado pelo prefeito Lindberg Farias que, reeleito, não pagou as faturas do ano passado. Esse processo vem se repetindo em todas as prefeituras do Estado do Rio, onde os jornais ficam sem opção de levantar meios de sobrevivência.

Sem os grandes anunciantes, carreados para TVs e rádios, os jornais regionais caminham para o desaparecimento. E, sem esses jornais, além do “buraco negro” na história de cada cidade e suas comunidades, está em jogo a liberdade de cada um para decidir, na hora de votar, o que fazer com o seu voto, pois os grandes jornais não estão preocupados com a rachadura no teto de uma escola, na falta de merenda na outra, de vacinas no posto médico ou até de médicos no hospital local. Salvo na campanha eleitoral, onde cada veículo se atrela a uma candidatura e o denuncismo corre solto.

Passada eleição, volta cada um para a sua vidinha e o cidadão comum, que acreditava no que o jornal falava desse ou daquele candidato, acaba se tornando um prisioneiro do sistema de cotas, de bolsa família, de emprego terceirizado. Diante disso, ele perde a fé em que a Democracia é um dos melhores sistemas políticos. Como naquele famoso soneto, vai-se o primeiro jornal, depois outro, e outros mais, até que só reste o Diário Oficial e a Agencia Brasil, um sofisticado substituto ao DIP-Departamento de Imprensa e Propaganda - do Estado Novo.

Jornais e jornalistas: uni-vos.

2 comentários:

  1. Infelizmente é isso. O pior é que cada vez mais, inclusive na grande imprensa. o bom jornalismo perde espaço para a publicidade. Lamentável.

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  2. É um fato lamentável a sociedade de Nova Iguçau deixar morrer um veículo que contou a história da cidade nos últimos 90 anos.
    Pior: é uma prova de ingratidão dos empresários iguaçuanos ocm o jornal que lutou bravamente pela cidade onde ganham dinheiro.
    Alberto Marques

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