quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A Cézar o que é de Cézar

Criei este blog ja faz algum tempo, mas alguns afazeres em outras paragens me impediam de dedicar-lhe a devida atenção. Em função disso aceitei a proposta de dividi-lo com outros companheiros da cidade que precisavam de um espaço como este para dar publicidade a suas opiniões à respeito das acontecências caxienses.
Nem tudo, no entanto, são flores, e as divergências de opiniões ocorrem naturalmente - o que faz um bem incrível, diga-se de passagem, ao processo democrático.
Reparei hoje que alguns colegas que aqui escrevem tem uma posição diametralmente oposta a minha no que se refere aos últimos acontecimentos ocorridos na Secretaria Cultura.
Considero que o Prefeito Zito tomou uma atitude profundamente madura ao determinar o retorno da Secretária e prestigiar a questão pública. Outros autores, aqui, tem uma visão diferente deste processo.
Democracia é isso. O debate entre posições contrárias que acabam evoluindo durante o processo político que se apresenta.
Farei questão, portanto, à partir de agora, de assinar todos os textos por mim publicados neste Blog. Creio que esta seja a maneira ideal de estabelecer a linha de pensamento de cada um dos participantes e promover a maior clareza possível para aqueles que acessam o blog e lêem as matérias.

Vicente Portella

Zito: um ato de maturidade política

Minha relação política com Zito, o Prefeito de Duque de Caxias se limita ao voto que lhe dei em sua primeira eleição e à “cobertura” que fiz de seu segundo Governo em meu antigo site – O Falácia – um jornal eletrônico de humor que me deu muitas alegrias e cumpriu muito bem seu papel durante o tempo em que foi necessário.

Atualmente, apesar de estar morando efetivamente em Caxias, tenho me concentrado mais na política regional, embora não abra mão de acompanhar, mesmo que à distância, os acontecimentos em minha cidade.

Fiquei surpreso, é claro, quando soube do pedido de demissão da Secretária de Cultura Ana Jensen. Na frágil concepção política do poder público na Baixada Fluminense a saída de um membro do primeiro escalão por questão de princípios é algo raro. Por aqui sempre foi mais comum o loteamento da máquina pública por cabos e soldados eleitorais de parca qualificação profissional e o apego exagerado ao cargo por Secretários quase sempre nomeados muito mais por seus deméritos que por seus méritos.

Na verdade, a Baixada vem alimentando através dos anos uma forma de fazer política completamente divorciada do interesse público. A fundamentação para nomeação de gestores públicos em nível de secretarias normalmente se dá apoiada em noções tão mesquinhas que algumas pessoas se desencantam e outras simplesmente se acostumam com a tragédia.

No episódio da Secretária Ana Jensen, no entanto, a coisa se deu de forma diferenciada, qualificando, de maneira até inesperada, o debate político sobre a forma da cidade gerir sua cultura.

Em qualquer cidade civilizada o chefe do executivo nomeia seus secretários por critérios de qualificação profissional e os delega a responsabilidade de planejar as ações de sua pasta, escolhendo a equipe mais adequada para executar este planejamento. Assim sendo, o Prefeito tem toda a autoridade, advinda do voto, para cobrar resultados.

Na baixada, no entanto, raramente é assim. Chegamos à um nível tal de clientelismo, que estabeleceu-se a tradição de nomear qualquer um para qualquer pasta e utilizar os espaços que deveriam ser ocupados por equipes técnicas ou políticas como um bônus para aqueles que ajudaram na campanha do alcaide.

O critério de Governar com seus pares é justo e correto, no entanto é necessário que se tenha o cuidado de preparar as pessoas para o exercício da função pública, pois a máquina não pode ser indignamente loteada por agentes sem qualquer competência para exercer a função a eles designada, e, além disso, é fundamental que as equipes técnicas e formuladoras de políticas públicas sejam mantidas à bem do funcionamento adequado da máquina.

A Secretária Ana Jensen ao assumir o cargo, mesmo não sendo radicada na cidade, teve o cuidado de avaliar a equipe da Secretaria, considerar o desempenho de cada um e manter aqueles que cumpriam dignamente as suas funções. Isso, obviamente, não agradou à todos. Diante de uma realidade política local onde imperam as práticas clientelistas, paternalistas e fisiológicas, a Secretária optou por critérios técnicos de desempenho, o que acabou gerando conflito de interesses.

O Prefeito, certamente pressionado por seus cabos eleitorais, determinou mudanças à Secretária, e esta, dignamente, preferiu entregar o cargo. A atitude de Ana Jensen, atípica em um universo onde detentores do poder por nomeação costumam oferecer as vezes a cabeça de seus melhores amigos em troca da manutenção de seus cargos, certamente levou o Prefeito Zito à uma reflexão, pois a firmeza de sua posição deixou bem claro que a Secretária de Cultura, ao contrário de tantos, demonstrou que o compromisso com a qualidade das ações executadas por sua pasta é anterior a qualquer sentimento de apego exagerado ao cargo. Atitudes assim, repito, são raras no universo político da Baixada Fluminense.

O Prefeito Zito, por sua vez, demonstrando profundo amadurecimento político, teve a grandeza de recuperar a relação com sua Secretária de Cultura e reconduzi-la ao cargo atribuindo-lhe a responsabilidade sobre a escolha de sua equipe, como ocorre em qualquer democracia evoluída.

Para alguns a coisa pode parecer um mero imbróglio entre dirigentes, mas na verdade isso representa um passo importantíssimo para uma cidade até então acostumada às pequenezas da políticas.

Zito está de parabéns por não ter permitido que a mesquinharia predominasse sobre a máquina pública e Ana Jensen, igualmente, está de parabéns por ter tido a dignidade de defender seus princípios.

Considerando que a função precípua de uma Secretaria de cultura local é, além de fomentar a atividade cultural local, inseri-la nos contextos regional e nacional, resta-nos agora torcer para que a cultura de Duque de Caxias, uma das mais ricas do Rio de Janeiro, floresça e se desenvolva, pois, certamente, a cidade que, além de abrigar pessoas que produzem culturas variadas e de qualidade, é o berço da cultura nordestina na região sudeste do País, tem muita coisa a oferecer ao Brasil.

Vicente Portella

terça-feira, 20 de outubro de 2009

A hipocrisia está no ar

Estava assistindo a cobertura da ação criminosa no Rio de janeiro pela GloboNews e cheguei a ficar assustado. A hipocrisia e a capacidade de manipulação dessa gente é algo sem limites.

Antes de qualquer coisa vou fazer um histórico, pois históricos não mentem:

No início da década de 80, quanto nossas capitais viviam em relativa paz, o Jornal Nacional, da Globo, dava a cotação das drogas todos os dias. Não havia ainda o “problema” do tráfico, mas era só ligar a TV às 8 da noite para ouvir Cid Moreira dizendo que haviam sido apreendidos tantos quilos de cocaína em algum lugar que ninguém sabia onde era no valor de X dólares. Bastava fazer as contas para se ter a cotação do dia.

Paralelamente fomos inundados por filmes americanos que faziam apologia da violência da forma mais grotesca possível. O herói preferido da Globo era Charles Bronson no papel de um psicopata carniceiro que promovia todo tipo de violência e agressividade possível, mas haviam muitos outros filmes propagando a carnificina urbana. Centenas deles.

Foi nessa época também que a Globo nos brindou com uma minissérie chamada “Bandidos da falange”, estabelecendo os critérios para as organizações criminosas no Rio de janeiro e, poeteriormente, no Brasil.

Depois de criar na mídia o clima propício a super violência ancorada pelo tráfico de drogas, curiosamente, a coisa começou a acontecer no mundo real.

As pessoas mais sensatas já diziam, naquele tempo, que havia algo no ar além dos aviões de carreira. Não havia no Rio grandes produções nem de drogas, nem de armas. Como poderia haver tanta violência sem uma coordenação profissional e minuciosamente trabalhada?

O enfoque da mídia, no entanto, preferia regionalizar a discussão e procurar culpados nos Governos que não lhe eram subservientes, fazendo de Leonel Brizola, por exemplo, uma de suas principais vítimas.

O fato é que em cerca de 20 e poucos anos nossas capitais foram transformadas em verdadeiro território livre para a milionária indústria do tráfico de drogas e a imprensa, minimizando a questão, apontava sempre um ou outro gerente de boca rastaquera como o “inimigo nº 1”da sociedade, ignorando a lógica de que as fortunas geradas pelo tráfico se edificam muito longe da favela. De escadinha a Fernandinho Beira mar, muitos demônios foram inventados nesse período sem que a indústria da droga fosse sequer abalada. Todas as pessoas sensatas de então afirmavam categoricamente que só seria possível combater o tráfico policiando as fronteiras, porta de entrada de armas e drogas. Mas a imprensa, liderada pela Globo, sempre fez questão de ignorar essa lógica irrefutável.

Quando, já em 2000 e pouco, a Secretária de segurança pública, então comandada por Garotinho, resolveu fazer uma espécie de operação abafa na entrada dos pontos de droga, como forma de inibir as vendas e causar prejuízos financeiros ao tráfico, a Globo, como sempre, foi contra e demonizou o ex Governador.

Na verdade, durante todos esses anos a Globo insistia em cobrar das polícias estaduais o combate a um crime que é constitucionalmente federal, o tráfico de drogas.

Agora, no entanto, tendo um aliado seu sentado no Palácio Guanabara – Uma imagem de retórica, pois o Governador se dedica muito mais a Paris do que a seu assento no Palácio – a cobertura da Globo resolveu, deliberadamente, apagar toda a responsabilidade do Governador sobre os conflitos. Hipocrisia pura.

De repente o crime passou a ser atribuição Federal e os Governantes locais se tornaram “vítimas” do processo. Na concepção da Globo a cidade e o Estado vivem as mil maravilhas e o tráfico de drogas é apenas um “fato isolado” como disse hoje na GloboNews um jornalista cozinheiro cujo o nome me escapa.

O tráfico de drogas é , inequivocadamente, o grande mal da sociedade moderna e assola todas as grandes cidades do Brasil, apesar de ter feito muitos milionária nos últimos anos, e para combate-lo é preciso seriedade. Certamente não é com a política de segurança marqueteira do nosso (des)Governador viajante que o problema será minimizado.

A globo, antes de mais nada, deveria fazer uma auto crítica. Quem implanta e propaga um negócio extremamente rendoso, embora nocivo, perde qualquer moral para combate-lo, mesmo que este combate seja só de fachada. O que vemos na verdade é a hipocrisia e a má fé sendo propagada em cadeia nacional com o intuito de manipular as pessoas de bem. Antes de qualquer coisa, isso é uma covardia.

Vicente Portella